Um projeto editorial livre: Ediciones de la Terraza
A mesa que inaugura o 1º
Congreso On Line de Gestión Cultural discute a temática da gestão
cultural para a produção de cultura livre. A partir de hoje (13.09)
até o fim dessa semana, é possível acompanhar no site do Ártica –
Centro Cultural On Line (http://goo.gl/RnpaBZ) as cinco palestras selecionadas e as
perguntas lançadas para gerar o debate. Na próxima quinta (15.09),
será realizada a videoconferência da mesa, onde as discussões
trazidas pelos palestrantes serão ampliadas através da participação
on line do público. A conferência será transmitida ao vivo, a
partir das 16h (horário de Brasília e Santiago), no canal do Ártica
no youtube (http://goo.gl/4SSM5w)
Foram escolhidos cinco
projetos de promoção de cultura livre provenientes de São Paulo
(Brasil), Córdoba (Argentina), Patagônia (Argentina) e Barcelona
(Espanha). A ideia desta mesa é debater, através destes cinco
exemplos, como se realiza um modelo de gestão cultural baseada nos
critérios de colaboração, compartilhamento, difusão e
acessibilidade ampla – ideias que se contrapõem a um modelo de
gestão baseado na propriedade, no controle da difusão, na busca
pela lucratividade que se associa ao controle de reprodução da
informação.
Definindo a cultura livre
como “um tipo de produção cultural que garante a livre
disponibilidade, acesso, utilização e reutilização dos materiais
e ferramentas produzidos”,
a mesa propõe discutir cada prática que deriva desse pressuposto
inicial observando os exemplos de cada um dos projetos selecionados.
Estas práticas, em linhas gerais, se relacionam a modos de agir que
tornam viável a produção cultural não voltada para fins
lucrativos, baseada na ampliação e difusão do conhecimento, na
formação de redes e na relação comunitária. O foco da discussão,
portanto, se dará sobre como esses projetos realizam sua gestão a
fim de tornar-se viáveis e cumprirem com os objetivos de fomentar
uma produção cultural e tecnológica aberta e acessível.
Um
destes projetos que, até o momento, me chamou mais a atenção é o
Ediciones
de La Terraza uma
editora de Córdoba, Argentina. Surgida em 2012, a editora tem como
objetivo a construção coletiva de suas publicações e a
disponibilidade delas o mais amplamente possível. Propõem uma
relação horizontal seja com os autores dos livros, seja com o
público, constantemente estimulado a colaborar e participar da
produção editorial (tanto através de financiamentos coletivos,
como opinando nas escolhas editoriais). Obviamente, utilizam licenças
creative commons e estimulam o acesso amplo às publicações.
O
que me chamou a atenção nesse caso é uma constante afirmação do
objeto-livro pelo grupo. Não se trata apenas de publicar e difundir,
é um projeto de produzir livros-objeto, livros que sejam atraentes e
desejáveis. Esse apelo para o livro na sua dimensão estética e a
junção disso a uma reivindicação de liberdade de circulação são
fatores bastante interessantes do projeto desta editora. Segundo
Bárbara Couto, uma das fundadoras da editora: "Em
Ediciones de la Terraza editamos livros daqueles
que te chamam desde a estante. Livros que começas
a desfrutar desde o momento em que começaste a folhear. Livros que
entretêm desde a leitura até o seu aspecto visual. Destes que
queres que todos vejam que tens para que queiram ter também. A
leitura começa com a curiosidade e o desejo.”
Aparentemente
se produz um paradoxo entre o apelo de ampliação do acesso,
virtualizando os livros para disponibilizá-los on line, e essa
reivindicação do objeto-livro quase fetichizado. É claro que o
livro on line jamais terá esse caráter táctil e visual que o grupo
enfatiza em suas publicações. Mas é nesse paradoxo que reside uma importante característica dessa editora: a produção de
um objeto de fetiche, que provoca desejo, sem estar associado a uma
noção de comercialização. O fato de enfatizarem o caráter
estético e objetual dos livros (dão sempre prioridade aos livros
ilustrados e enfatizam o cuidado com a encadernação) poderia
facilmente relacioná-los a editoras comerciais que produzem objetos
que rapidamente se tornam desejados e valorizados em um mercado
editorial. Mas
a ênfase, por outro lado, no uso das licenças creative commons, na
busca pelo apoio em financiamentos coletivos e o desejo de devolver
essa colaboração em rede disponibilizando o conteúdo do livro é
algo que tira essa editora desse sistema de regulação da informação
e do controle via comercialização. Essa experiência e seus resultados, quando melhores observados, podem contribuir para o grande debate gerado entre produção artística e uma relação com o mercado, sem com isso diminuir a importância da constituição estética e objetual da arte.
Porém,
os editores admitem que não é tão fácil trabalhar com as licenças
creative commons junto aos autores. Segundo Couto, a proposta de
abertura da editora as vezes esbarra nos desejos e crenças
individuais dos autores, provocando negociações e adaptações. Mas
as negociações se dão em um nível de escolher qual licença
commons o autor prefere trabalhar, estando sempre a possibilidade de
ter que escolher alguma delas.
Aparentemente,
Ediciones
de La Terraza, em
seus quatro anos,
tem conseguido manter seu projeto editorial colaborativo em
funcionamento. Segundo relato de Couto, os processos de
compartilhamento vão gerando novas redes e propostas para a editora,
gerando um movimento de retroalimentação. Um movimento de ampliação
e difusão que vai atraindo novos agentes interessados em participar,
mesmo sem a pretensão de “crescer”, “conquistar metas”,
“atrair novos parceiros”. As palavras mais usadas nesse projeto,
que se contrapõe a estas últimas - mais comuns no vocabulário
comercial - são: parcerias, compartilhamento, colaboração e
coletividade. A editora se pretende um projeto de produção
estética e artística cujo único fim é ser fruída.
Na
próxima quinta (15.09) iremos acompanhar a presença de Ediciones
de La Terraza
na videoconferência e tentar, durante o debate, descobrir em que
condições a editora tem sobrevivido e se reproduzido, de que
maneira os livros impressos são comercializados e/ou compartilhados
e qual o verdadeiro alcance dessa iniciativa dentro de um processo de
produção de redes. Sigam acompanhando o Blog Reflejo para saber
mais. #GCultural2016
Para conhecer mais sobre Ediciones de La Terraza, clica aqui: http://edicioneslaterraza.com.ar/
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